sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Alegria até mesmo dentro de um ônibus lotado

Marquinho candango ganha a vida arrancando risadas dos passageiros do transporte público do Distrito Federal


FERNANDO PINTO
JURANA LOPES

Uma das coisas mais difíceis de se fazer é arrancar risadas de quem utiliza o serviço de transporte público do DF. Entretanto, Marquinho Candango, 38 anos, cumpre essa missão muito bem e já faz isso há 20 anos. Diariamente, ele sai de casa, em Vicente Pires, antes das 7h. Deixa os cinco filhos na escola. Logo depois, a luta começa. Marquinho pega até 25 ônibus em um dia. Em cada um deles, apresenta seu show de comédia. Incorpora a personagem Docinho, mesmo vestido com roupas masculinas.


As brincadeiras são interativas e todos participam, desde o motorista aos passageiros. Com Marquinho, tudo vira piada. Ele faz graça com a poeira de Vicente Pires: “Vicente Pires é a cidade que Deus ama. Quando não é poeira, é lama”. Ri da vida amorosa do cobrador, a quem apelidou carinhosamente de “Cobra”, e avalia o visual das mulheres da plateia. A maioria entra no clima e não se ofende com o humor. “Eu brinco com todo mundo, mas pego mais no pé de quem está rindo, gostando do show”, explicou o artista. Com 1,63m de altura, ele se equilibra em cima da roleta e pendura-se facilmente nas barras de ferro.


Após a performance, o ator passa o chapéu para quem quiser ajudar. “Aceito notas de R$ 50 e R$ 100”, brinca. Boa parte dos passageiros contribui com alguns trocados. “Tem gente que não dá nada, mas bate no meu ombro e fala: ‘Parabéns, você vai longe. Tem talento. Deixou meu dia mais feliz’. Isso dá força para continuar.” Marquinho é famoso entre os usuários de ônibus. Quase todos os motoristas e cobradores o cumprimentam e disputam sua presença. “O povo já sai de casa estressado. É bom ter um Marquinho para melhorar a situação”, disse o motorista Wanderley Fonseca, 52 anos.


Marquinho costuma dizer: “Motorista, se o cobrador é meu marido, o pai dos meus filhos, dê duas buzinadas”. Em poucos segundos, soa a buzina do veículo. O público ri com uma intensidade contagiante. A secretária Juliana Mendes considera o trabalho de Marquinho muito importante. “Tem dias que a gente está tão desanimado, então ele entra dentro do ônibus e faz várias brincadeiras, isso alegra e faz a gente vê o mundo de maneira mais positiva”, explica.


O ator paga passagem nos coletivos em que viaja. “Sou o cliente número 1 de todas as empresas de ônibus”, disse, entre sorrisos. Garante que já ganhou até R$ 40 a cada apresentação, em veículos lotados. Dessa maneira, conseguiu construir casa própria, comprou um carro e, com essa renda, sustenta a família: a mulher, Miriam Guerra da Silva, 32 anos, e os cinco filhos. “Graças a Deus, meu trabalho é reconhecido. Não tenho do que reclamar”, garante.

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